14/09/2017

Toda menina tem que fazer ballet. Ou não?

Por Nathália Alves, autora do Instagram @repertóriodemae

Toda menina tem que fazer ballet. Era o que eu pensava olhando para a Amanda ainda bebê no berço. Eu não tinha, necessariamente, uma fixação por esse assunto, mas parecia implícito o que eu deveria fazer “por ela” quando crescesse.

Minha primogênita fora chamada de Lucas durante toda a gravidez uma vez que eu não quis conhecer o sexo do bebê antes do parto e tinha um “infalível feeling de mãe” de que era um menino. Bom, nem preciso dizer que, quando a primeira neta chegou à família naquele dezembro na Maternidade Pro Matre em São Paulo, a avó materna correu para comprar macacões cor-de-rosa: “Minha neta não vai sair nas fotos de maternidade de ´beginho´”. Ótimo! Adentrava naquele instante em minha vida o maravilhoso mundo cor-de-rosa com o qual toda mãe de menina sonha e com o qual toda mãe de menina se indispõe fatalmente um dia. Enfim, eu estava muito feliz com a novidade de levar para casa aquela florzinha toda cheia de laços rosados.

Com o tempo, como fazem os pais, a gente vai vendo aquele serzinho crescer bem na nossa frente e pensa, obviamente, no futuro. E o futuro de um recém-nascido é, no máximo, o que ele vai ser quando tiver 3 anos. Eu pensava naquele “pacote mínimo” para o início da vida (de menina): escolinha, ballet e depois natação. Confesso que, ao matriculá-la no ballet, surgiu aquela curiosidade de vê-la dentro do collantzinho rosa, ensaiando a famosa “borboletinha”. E assim foi. A partir dos 3 anos, Amanda calçou as sapatilhas 2 vezes por semana na pré-escola.

Até que um dia chegou a mudança para a escola grande. No tour de visita fui apresentada à sala de ballet: espelho imenso, barra por todos os lados, enfim, uma sala de ballet de verdade. Foi impactante. Era perfeita! Já podia imaginá-la evoluindo seus passos em uma aula “pra valer”. Fora automático, Amanda já estava matriculada novamente no ballet.

Quando ela completou 8 anos ofereceram uma aula aberta de presente às mães pelo seu dia. Na véspera, não hesitei e fui com a Amanda a uma famosa malharia comprar tudo novinho: sapatilhas, collant, meia-calça, acessórios para o coque, bolsinha, enfim, tudo muito cor-de-rosa. Investimento para o futuro!

No dia seguinte, cheguei cedo à sala de ballet e me acomodei no melhor lugar possível com a câmera fotográfica em mãos, minha marca registrada até hoje – mas agora uso o celular. A música começou e as pequeninas alunas deram início à esperada demonstração. Com os olhos marejados comecei a seguir a Amanda. Foi então que tive o segundo grande impacto dentro da sala perfeita: a feição dela era triste. Sim, triste. Rapidamente pensei em tudo o que poderia estar causando aquele incômodo: as sapatilhas estariam machucando? Ela não teria me visto na plateia? Teria brigado com alguma coleguinha? A professora teria chamado a atenção dela? Em segundos cada uma dessas dúvidas caiu por terra. Não era “nada”. Ela estava mesmo era infeliz ali. Essa conclusão foi tomando conta do meu ser de uma forma que eu parecia não ouvir mais a alta música clássica que dominava o ambiente. Só conseguia pensar: “Meu Deus! Ela odeia o ballet!”. Tive o ímpeto de interromper a aula e tirá-la dali, salvá-la daquela tortura, mas felizmente recobrei a lucidez em tempo avaliando o estrago e não o fiz. Esperei angustiada a aula “pra valer” acabar ou acabar “pra valer”, enquanto observava o esforço que ela fazia para realizar aquilo tudo a contento. Há quanto tempo eu estava fazendo isso com ela sem me dar conta?
Mal terminaram os aplausos eu corri na direção dela, dei um abraço forte e fui direto ao ponto:

– Filha, você gosta do ballet?

– Mamãe, você não vai ficar brava comigo?

Bem, não preciso nem dizer que ela nunca mais voltou àquela sala, né? Tive o cuidado de explicar a situação à dedicada professora que entendeu perfeitamente. Do meu lado, morri feliz com um completo enxoval de ballet dentro do armário. Fico pensando como teria sido se eu não estivesse lá naquele dia. A tristeza dela teria se arrastado por quanto tempo mais sem que eu tivesse a menor noção? Santa Aula Aberta!

Amanda nunca se arrependeu. Viu e curtiu os progressos da irmã mais nova na mesma sala perfeita de ballet, da mesma escola, com a mesma dedicada professora. Minha caçula usou todo o enxoval intacto da irmã e até que chegou à sapatilha de ponta. Mesmo assim, traumatizada que fiquei, é comum ainda ela me ouvir falar: “Filha, se não quiser continuar, não precisa, ok?”

O fechamento desta história veio no dia em que vi Amanda arrasando num jogo de handball como artilheira e capitã do time. Fiquei tão orgulhosa e aliviada ao constatar que as quadras podem trazer felicidade a ela!

Com este episódio aprendi duas coisas importantes: nós realmente não calculamos o quanto nossas expectativas podem influenciar a vida e o destino de nossos filhos. É preciso muito cuidado ao projetar neles qualquer coisa que seja. Não só de nós mães, mas dos pais, tios, avós, etc. Aprendi também que não devemos nos render àqueles rótulos impostos pela sociedade, pela vizinha ou por quem quer que seja: “menino tem que fazer futebol, menina ballet” ou “toda criança tem que fazer tal esporte e tocar tal instrumento”. Poder dar as oportunidades aos nossos filhos, sabemos que é um enorme privilégio, no entanto é imprescindível buscar rápido o feedback. Ele está gostando de verdade? Será que não existe algo mais adequado que substitua o tal pacote implícito e traga benefícios semelhantes? Mesmo pequenos, os filhos precisam ser ouvidos. Afinal, quantas “aulas abertas” teremos a oportunidade de assistir? Criemos então nós mesmos este espaço. Enquanto é tempo.

 

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Fonte: Macetes de Mãe por Shirley